Imagens da Mulher no Ocidente Moderno/Edusp é uma trilogia, de autoria da socióloga Isabelle Anchieta, que remonta o processo de humanização e individualização da mulher, por meio de imagens, desde o fim da Idade Média até a Modernidade.

 

Resultado de oito anos de pesquisa de campo, em diversos países, a obra está dividida em três volumes. O primeiro estabelece um diálogo entre as imagens das bruxas da Idade Média e as das índias tupinambás canibais; o segundo volta-se às diferentes representações de Maria e Maria Madalena; já o último aborda as transgressões das estrelas de Hollywood.

 

As obras contam com apresentações da historiadora Lília Schwarcz, da socióloga Maria Arminda do Nascimento Arruda e do antropólogo Máximo Canevacci.

 

“Nos três livros que compõem a série, Isabelle Anchieta inaugura, entre nós, um estilo de reflexão que explora as múltiplas possibilidades de interpretação das imagens na perspectiva sociológica. É uma obra originada no manejo da mais fina artesania”, pontua a socióloga Maria Arminda do Nascimento Arruda.

 

 “A pesquisadora se deslocou rumo às fontes originais e fez uma verdadeira peregrinação em direção às imagens, sem descurar jamais da materialidade das obras analisadas: o tamanho, os locais, o contexto e a autoria. O conjunto é robusto, inesperado e convence”, diz a historiadora e antropóloga Lilia Schwarcz.

BRUXAS E TUPINAMBÁS CANIBAIS

Elas atormentaram os homens durante a Idade Média e desafiaram a autoridade da Igreja Católica. Bruxas e Tupinambás Canibais.Xilogravuras circulam em toda a Europa alertando para os perigos dessas mulheres nuas, ativas sexualmente, com poderes sobre a vida e a morte e, depois da descoberta da América, areditem…canibais. Imagens que se encontram e se contaminam mutuamente nos séculos XV e XVI, produzindo consequências reais na vida das mulheres, perseguidas e assassinadas em um dos Holocaustos mais dramáticos da História. Mas enganase o leitor serem elas vítimas passivas, longe disso. Nesse primeiro livro da coleção a socióloga Isabelle Anchieta remonta a sociogênese desses estereótipos que criam uma imagem sobre-subumana e ambígua da mulher.

MARIA E MARIA MADALENA

Conhecida por um nome, mas representada de mil maneiras: virgem, imperial, negra, humilde. O segundo livro da coleção apresenta a sociogênese da mais bem-sucedida imagem da religião ocidental: Maria. Aos poucos ela desce do trono celeste e humaniza-se, seguindo os passos da Reforma Franciscana. Mas até um limite inegociável: a sua sexualidade. Momento em que emerge a imagem da carnal Madalena, aquela que estava maculada pelo pecado e precisava encontrar um novo caminho de arrependimento e expiação, assim como a Igreja Católica no período das Reformas. Maria e Maria Madalena remontam visualmente a ascensão e a queda da moralidade cristã na passagem da Idade Média para a Moderna. Da santa, à uma mulher encarnada.

STARS DE HOLLYWOOD

Elas trabalham, dirigem, fumam, abordam o parceiro sexual, e criam suas próprias regras, alheias à moral tradicional. Imagens que pela primeira vez na História valorizam a transgressão feminina. As Stars de Hollywood. Mulheres com rostos, personalidades e comportamentos fora do comum. Imagens são sobretudo sintoma de um novo sistema de relações centrado no indivíduo e amalgamado por realidade e fantasia; pelo público e pelo privado. Nesse terceiro e último livro da coleção a socióloga Isabelle Anchieta analisa 19 Stars para entender como se dá o processo de individualização social da mulher. Imagens que não só são, mas ajudam a criar a própria ideia da modernidade.